Como psicóloga, vivo um dilema – teórico, metodológico e também, por que não?, preconceituoso – de incluir, em minha prática, em meu mar de palavras e em meus trabalhos, o ethos que encontrei como caminho possível. Por que falo deste dilema? É claro e conhecido que a psicologia se ocupa, na maior parte do tempo e da história, de falar da psique humana (ou qualquer outra denominação que queira dar: consciente, inconsciente, comportamento, self, etc, etc, etc). Ela também se ocupa de falar do corpo, isso não nego, mas até para falar do corpo, ainda falamos muito em uma visão bastante dicotômica, bastante distanciada e hierárquica, do pensamento, do cérebro e da mente, em detrimento de carregar um corpo. Esse dilema é que me acompanha.
A imersão no aprendizado do Processo Formativo é que tem me acompanhado na solução desse dilema. Meu corpo, por final, não se submeteu às cobranças da minha profissão. É verdade que assumir este lugar não é simples, mas a busca por aliados nos ajuda a perceber outras saídas. A construção de um corpo mais funcional dá-se aos poucos: vou analisando, aqui e ali, problematizando movimentos, questões, verdades, sem me desapropriar, sem perder-se em meio aos questionamentos. É de praxe, em muitas correntes da Psicologia, questionar o dado, mas sem construir, necessariamente, caminhos possíveis. Até que ponto, eu me perguntava, isso poderia ser constituidor de um movimento de transformação? Não é justo, para nenhum profissional nem para nenhum paciente, ficar sem nada, ficar no escuro.
Percebo hoje, também, que o aprendizado dessa forma apropriada de saber do corpo, se deu pela descoberta do aprendizado de meu corpo, de suas experimentações. A descoberta da corrida, a volta à prática da yoga quase dez anos depois... Tudo isso colabora com um olhar sobre si e sobre o outro que diferencia e facilita pensar e agir sobre o mundo e sobre o outro – consequentemente, sobre mim. Reflito muito sobre as questões do vivido, desde um bebê, sua tenra infância, passando pela adolescência, juventude, adultez... Todas essas questões inundam meus pensamentos com muito vigor e curiosidade. No encontro com o Corpo Intenção, tenho tido a oportunidade de um diálogo franco e sincero, no qual há espaço para dúvidas e também para afirmações, possibilitando o encontro com um certo corpo, o meu corpo.
O corpo utópico é realmente só utópico. O corpo possível é recheado de corpos possíveis e todos eles passeiam pela experiência: do consultório, do calçadão, das ruas, da praia, da vida. A chance de explorar meu dilema e abrir os horizontes com ferramentas e com companhia tem sido formador. Este é o real Processo: ambiente confiável e tempo formativo. Em descobertas, desdobramentos, confiança.
Paula Maria Valdetaro Rangel. Psicóloga, Psicoterapeuta, Educadora Formativa, Professora, Leitora e Escritora. Graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo, Mestra em Psicologia Institucional, pela mesma universidade.

“Mas meu corpo, para dizer a verdade, não se deixa submeter com tanta facilidade. Depois de tudo, ele mesmo tem seus recursos próprios e fantásticos. Também ele possui lugares sem-lugar e lugares mais profundos, mais obstinados ainda que a alma, que a tumba, que o encanto dos magos. Tem suas bodegas e seus celeiros, seus lugares obscuros e praias luminosas. Minha cabeça, por exemplo, é uma estranha caverna aberta ao mundo exterior através de duas janelas, de duas aberturas – estou seguro disso, posto que as vejo no espelho. E, além disso, posso fechar um e outro separadamente. E, no entanto, não há mais que uma só dessas aberturas, porque diante de mim não vejo mais que uma única paisagem, contínua, sem tabiques nem cortes. E nessa cabeça, como acontecem as coisas? E, se as coisas entram na minha cabeça – e disso estou muito seguro, de que as coisas entram na minha cabeça quando olho, porque o sol, quando é muito forte e me deslumbra, vai a desgarrar até o fundo do meu cérebro –, e, no entanto, essas coisas ficam fora dela, posto que as vejo diante de mim e, para alcançá-las, devo me adiantar.” (Michel Foucault – o corpo utópico )
O Encontro Com Os Corpos Possíveis
O Pulso dá Forma

Durante um ano e meio, mais ou menos, mantive duas atividades em paralelo:
um curso teórico de harmonia com um maestro e uma terapia corporal
com uma fisioterapeuta. Aparentemente, eram atividades com pouca ou
nenhuma ligação entre si. Depois desse período, conversando com a minha
fisioterapeuta, comecei a observar incríveis semelhanças entre a dinâmica do corpo humano e a da música. Incentivado por ela, decidi escrever este pequeno texto.
Deixo claro, desde já que, ainda que desempenhe a atividade de músico profissionalmente e tenha feito terapia corporal durante algum tempo, não sou credenciado para discorrer em nível acadêmico sobre nenhum dos dois assuntos. Todavia, as semelhanças são tão interessantes que uma pessoa minimamente curiosa e observadora poderá percebê-las, no ato a minha intenção, sem a necessidade de recorrer a grandes profundidades científicas.
Comecemos pelo pulso, o ritmo. Composto de sons e pausas na música. Presença e ausência no corpo. Aquilo que não pulsa não está vivo. Tampouco é música. O pulso dá forma.
A complexidade do corpo humano, assim como a complexidade da música, está em múltiplas pulsações, ocorrendo em níveis diferentes, misturando, contrapondo, completando.
No corpo humano, a vibração dos átomos, o pulso das mitocôndrias na respiração das células, do sangue nas veias, do batimento cardíaco, do ar nos pulmões, da digestão. A contração e o relaxamento dos músculos. O ato sexual, o andar, o correr. A dança.
Na música, a vibração do som, a frequência das notas, notas e pausas, o ritmo, o andamento da música, corda presa, corda solta, vibrato, legato, staccato, ADSR (attack, decay, sustain e release) – os quatro componentes do som sintetizado, a tensão e o relaxamento da harmonia. A base de toda a música popular que conhecemos é o trítono. É a distância de três tons em duas notas tocadas simultaneamente que provoca uma tensão dissonante quase insuportável. Na Idade Média, o trítono foi proibido de ser tocado por ser considerado o “intervalo do diabo”. Ainda bem que os inquisidores não tinham lá esse ouvido todo, senão os compositores da época teriam ido todos para a fogueira. O trítono é o principal elemento do que hoje, na música popular, chamamos de acorde dominante, ou acorde maior com sétima menor. Esse acorde é usado para criar tensão antes do acorde tônico, que define a tonalidade da canção e é a posição de relaxamento. Para não cansar o leitor que não é músico, todos os outros acordes que se colocam em uma canção popular são variantes dessa relação de tensão e relaxamento. Canções podem usar pouca tensão entre os acordes e ficarão mais contemplativas, “viajandonas”. Ou podem ser repletas de momentos de grande tensão, com um clímax que se resolve na tônica e emociona o ouvinte. As variáveis são infinitas (graças a Deus!).
Nosso corpo funciona como a composição de uma canção. Temos o poder de escolher entre tensão e relaxamento na nossa presença corporal conforme cada situação em que somos colocados diariamente. Cabe a nós escolher os acordes que iremos usar. E para isso, é necessário repertório. Quanto mais conhecermos a nós mesmos, e os acordes que o nosso corpo pode produzir, melhores serão as nossas escolhas, e melhor ficará a nossa canção.
Gui Afif é músico e empreendedor na economia criativa. Hoje presidente do Cemec e diretor do Guaimbé Bureau de Cultura, iniciou sua carreira na área comercial do setor de seguros e previdência. Foi gerente comercial na Conspiração Filmes, de onde saiu para fundar o Guaimbé em maio de 2007. Ao longo deste período, vem desenvolvendo paralelamente (e pacientemente) uma carreira musical compondo, cantando e tocando saxofone em diferentes projetos. Gui é formado em administração de empresas pela FGV, diretor na Associação Comercial de São Paulo e membro do Conselho de Turismo do Estado de São Paulo.
Comecemos a partir daquilo que a cultura filosófica nos legou: o nascimento da “theoria” no mundo ocidental antigo... A teoria como os gregos a entendiam - nome cunhado pelos filósofos pré- socráticos - tinha como objetivo examinar o mundo através de um discurso racional e em certa parte contemplativo. Assim foi que nasceram as primeiras teorias, a Teoria do Lugar, a Teoria do Vazio, a Teoria sobre as origens do Mundo... Os estoicos foram os primeiros a seguir nesse sentido, e mesmo com todas as diferenças de conteúdo que possa haver ao longo de suas construções, as teorias dos antigos filósofos eram compostas a partir de uma aptidão mais perceptiva (intuitiva) do que somente racional (discursiva). Isso se dava, em grande parte, devido à tensão entre o discurso lógico e denotativo & uma linguagem claramente poética e conotativa, linguagem esta a única capaz de sustentar o paradoxo e o mistério da aparição dos entes. Vale dizer que nesse gesto reside grande parte da potência de um afeto e de sua passagem, seja na escrita, na pintura ou na vida cotidiana. Mas continuemos.
Os tempos avançaram, descobertas e invenções se deram ao longo dos séculos e hoje pode- se dizer que todas as teorias são compostas de uma espinha dorsal feita de conceitos, ideias e técnicas que servem para explicitar um olhar específico sobre a matéria do mundo em questão. Política, economia, matemática... Muito do avanço das Ciências e tecnologias atuais se deu graças ao modo teórico e racional de entendimento do real capaz de se construir ao longo do tempo, buscando sempre a aplicação e verificação na realidade compartilhada. Foram criadas diversas delas: Teoria dos Jogos, Teoria do Caos, Teoria da Relatividade, Teoria do Conhecimento, Teoria do Amadurecimento...
Mas a questão que nos guia continua sendo a do início:
Como construir um olhar teórico que se misture a um olhar poético, sem que haja prejuízo de compreensão e inteligibilidade do mundo?
Como sustentar o gesto poético no contato com as teorias que se apresentam a nós em nossos estudos e trabalhos?
Se o poético, além de se fazer no artefato estético produzido através de palavras, reside também na aparição do mundo renovado e no gesto celebratório do estrangeiro que nos habita, como sintonizar essas potências sem perder o contato fértil com as visões teóricas do mundo?
Suspeito que a chave para essas perguntas esteja na escuta pessoal do nosso corpo sensível & descolonizado, de onde brotam nossos gestos mais pessoais e espontâneos, onde nossa expressão passa a ser transmutada pela alteridade do mundo.
Um corpo (e um pensamento) exposto às dores e alegrias do outro e de si mesmo está sempre atravessado por certa instabilidade, porém apresenta uma maior capacidade para se modificar durante os encontros afetivos, passando a colher seus próprios frutos na presença do mundo. Frutos que podem fertilizar outros campos da vida & do saber teórico, pois as palavras, os conceitos e os gestos cotidianos são passagens de vida que precisam ser habitadas verdadeiramente & não meramente repetidas de forma utilitária.
Muito daquilo que chamamos de “poesia da vida” se transmuta justamente através da simplicidade e da confiança em nossas próprias experiências silenciosas, “finalidades sem fim” que seguem criativas em nós, barrando a avalanche de discursos e de imagens fracas em afetos estéticos. Quem sabe experiências assim possam nos guiar em meio à atual avalanche de “de mil ideias e milhares de técnicas”, ajudando-nos a investir em novos modos de vida & de expressão que potencializem nossa sensibilidade e pensamento
Cristiano Ribeiro Vianna – Psicólogo pela Puc - SP. Escritor e amante de poesias & teorias.
A tensão entre o teórico e o poético
Pintarei neste breve texto um quadro que talvez possa interessar a alguns leitores, principalmente aqueles que se debruçam sobre as práticas corporais, sua construção teórica e expressividade poética. A pergunta que nos conduzirá é a seguinte: olhares e construções teóricas sobre os mais variados temas são passíveis de serem fertilizadas pela tensão junto à linguagem poética?
Leveza, agilidade, peso, força, velocidade e resistência são qualidades de movimentos que podem expressar sentimentos e ideias diversas: "intenções" desveladas a partir de "intensões" bem construídas e equilibradas.
Um simples movimento é produzido mediante contrações musculares e as tensões devidamente distribuídas pelo corpo é que promovem o movimento harmonioso.
Projetar-se, posicionar-se, fazer-se presente, deslocar-se elegantemente, significa ter consciência da estrutura que "carrega"; é integrar, conduzir e coordenar tensões de músculos. Que devem lembrar figuras de fibras elásticas e nos dão real possibilidade de ritmo e pulsação, premissa para os movimentos suaves inscritos pelo bailarino.
A tensão e a leveza do dançarino
Marize Piva, é bailarina com curso superior de Artes Corporais na Unicamp, aperfeiçoamento Escola Peter Goss de Dança Contemporânea, Paris. Projeto desenvolvido na Espanha com recursos da bolsa virtuose oferecida pelo Ministério da Cultura do Brasil. Montagem do espetáculo AL NA'IR.
Dançar: poesia de todo e qualquer corpo que se lança no espaço. A arte de encadear gestos, movimentos simbólicos e desenhar com o próprio corpo no vazio, exige trabalho sistemático e repetitivo de exercícios físicos. Explorar e sensibilizar cada pequena região do aparelho locomotor leva à , surpreendentemente, redescobrir-se em novas atitudes e em formas dinâmicas de interagir com o mundo.

Nicole Witek, praticante de Yoga há 20 anos. Formada pela Federação Francesa de Yoga, Federação dos Yoga Tradicionais, União Europa de Yoga, Federação Koreana de Yoga. Também formada em Yoga Pré e Pós-Natal, Yoga Mental, Shiatsu, Reiki, Starlife Meditation System, Avatar.
Corpo Intenção ou Corpo Intensão
Longe da obsessão pela busca da perfeição compulsiva do corpo, o Yoga tornou-se uma fascinação para o mundo ocidental. Não, não é uma ginástica a mais, nem é reservado só para esses corpos flexíveis, adolescentes ou para nossas estrelas do cinema ou da mídia. Está ao alcance de todos!!
Essa conquista da liberdade começa com o corpo físico. Livrar o corpo das tensões inúteis é o primeiro passo, tensões estas que travam a musculatura e limitam a liberdade dos atos. As posturas de Yoga vão permitir que identifiquemos essas tensões indesejáveis para podermos dissolvê-las e então encontrar um jogo de tensões organizadas em unidade, facilitadoras dos movimentos no espaço.
Livrar-se das tensões provenientes das emoções que armazenamos ao longo do dia, sem perceber é o segundo passo. Conseguiremos isso através da respiração que está intimamente ligada aos estados emocionais. Levando a atenção aos movimentos respiratórios nos tornaremos os observadores dessas emoções. Aprenderemos, aos poucos, "passar" pelas emoções que nos abalam sem "estacionar" neste momento, escolhendo manter os sentimentos que trazem mais alegria e felicidade.
Através das posturas exercitar a atenção e consequente aumento da força de concentração. Podemos gradativamente nos tornar mestres da própria mente e disciplinar os pensamentos agitados. Afastar os pensamentos que criam tensões desorganizadas e acumuladas, deixando espaço para a tensão organizada que servirá à autêntica intenção.
Graças à força direcionada do desejo concentrado, positivo, criador, conseguiremos nos organizar a partir do centro e através do corpo alcançar a realização do nosso potencial. Essa intenção vai ser a fonte da reorientação e da descoberta fascinante da liberdade.
As técnicas de Yoga vão gerar mais motivação e força de vida que se distribuirão harmoniosamente na nossa vida cotidiana, levando, a cada dia, mais fluidez e intuição.
Essa intuição só encontrará seu caminho a partir do desejo, intento firme, com o suporte do meu corpo. Plena saúde e potencial integral reunidos para a realização da liberdade e felicidade.
O que têm em comum Gandhi, Gwyneth Paltrow, Sting, Madona?! Esses personagens famosos "encontraram" Yoga, para ter o carisma, o bem estar interior, a boa forma e sentir-se bem no próprio corpo e mente.

